Alto-astral, esportista, atento com a alimentação e em cultivar bons pensamentos. Brincalhão, com boas tiradas, o construtor aposentado José Gonçalves da Silva Mendes, de 82 anos, é dessas pessoas de bem com vida e que exala sabedoria diante dos obstáculos que se apresentam. Ele faz parte do grupo que sabe lidar com o estresse e não deixa a angústia ou o desânimo colocá-lo pra baixo. Há pouco mais de dois anos, ele teve diagnóstico de câncer de próstata e encarou 37 aplicações de radioterapia para vencer a doença. Mesmo para os fortes, confessa, foi um susto e tanto. “Na realidade, vacilei. Para não dizer que errei ao não fazer os exames necessários. Só fui fazer o toque retal depois dos 80, com anos de atraso, mesmo com a família insistindo. O resultado foi que já estava num estágio grave, no penúltimo grau. Foi um choque.”
Choque que deu a ele força para lutar contra uma das doenças mais temidas. “Consultei-me com dois urologistas oncólogos, excelentes, e fiz meu tratamento pelo SUS, no Hospital Luxemburgo. Tive atendimento espetacular, fui incrivelmente bem cuidado. Fiquei mesmo foi impressionado com a quantidade de pacientes com câncer de próstata que chegavam por lá. Resisti bem ao tratamento e agora estou na contagem dos cinco anos, quando poderei dizer que estou livre da doença. Acredito também que praticar esportes desde cedo me ajudou muito. Jogo tênis, peteca, xadrez, buraco… pedra!”, brinca seu José.
A reação positiva ao tratamento ocorreu ainda porque ele tem boa saúde, não tinha nenhum outro problema. “Sem dúvida, isso me ajudou muito. E acredito que o fato de não ter omitido o câncer, de ter falado para a família, aberto o assunto, também contribuiu. Não me incomoda tocar no assunto, até para alertar as outras pessoas. O grande risco é não fazer os exames, tanto o toque retal quanto o controle do PSA. De preferência, anual. Na época em que descobri a doença, o meu PSA era 11, hoje está menos de um. É preciso vigiar. Não sou o típico homem com medo de médico, no entanto, por ser assintomático – não sentia nada, nenhuma dor -, acabei me descuidando. Temos de dar atenção ao nosso corpo”, aconselha.
Recuperado, na ativa e com o corpo em movimento, seu José recomenda que todos os homens “tomem cuidado com a alimentação, que deve ser balanceada, ingiram pouca gordura, bebam muita água, façam exercícios e consultas periódicas ao urologista, porque a especialidade faz parte do checape. Não mudei minha rotina, faço as mesmas coisas de antes, acrescentei um brócolis aqui, um aspargo acolá, sucos naturais – o de maracujá é ótimo –, e nada de estresse ou angústia”.
José Gonçalves é um personagem de alerta para todos os homens, ainda mais neste mês, quando, desde o dia 1º, para orientar a população, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) começou mais uma edição do Novembro Azul. A campanha deste ano vai contar com palestras, ações de esclarecimento nas ruas com o Dr. Prost (personagem criado pela SBU para esclarecer ao público leigo sobre as doenças da próstata), live nas redes sociais, veiculação de mídias em transporte público e material informativo no site oficial da entidade: www.portaldaurologia.org.br/novembroazul.
No dia 20, representantes da SBU participam do 11º Fórum de Políticas Públicas e Saúde do Homem, na Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento ocorre todos os anos, por sugestão da entidade, para discussão da saúde do homem. O tema deste ano é “A saúde do homem do campo”.
A campanha, adotada no mundo todo, nasceu em 2003, na Austrália, ligada ao Dia Mundial de Enfrentamento ao Câncer de Próstata, em 17 de novembro, e ao Dia Internacional do Homem, celebrado no dia 19. Dessa forma, houve grande adesão, fazendo do mês a principal época de alerta e estímulo à prevenção do câncer de próstata.
Mata
O câncer de próstata é o segundo que mais mata os homens. Conforme o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), para o Brasil, estimam-se 68.220 casos novos de câncer de próstata para cada ano do biênio 2018-2019. Esses valores correspondem a um risco estimado de 66,12 casos novos a cada 100 mil homens. Ele é considerado câncer da terceira idade, já que cerca de três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos.
O Inca tem uma cartilha com o beabá do câncer de próstata que, por meio de informação segura, ajuda na quebra do medo, preconceito e desconhecimento, que são barreiras que impedem os homens de cuidar melhor da saúde. Câncer de próstata: vamos falar sobre isso? está disponível para que todos tenham orientação correta em mãos e um alerta para que cada homem se dirija a um médico, em caso de suspeita ou dúvida. O câncer de próstata, na maioria dos casos, cresce de forma lenta e não chega a dar sinais durante a vida. O risco aumenta com a idade. No Brasil, a cada 10 homens diagnosticados com a doença, nove têm mais de 55 anos. No entanto, há tumores que podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte.
Rastreamento
Vale registrar que a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda a consulta com o urologista para definir individualmente o rastreamento do câncer de próstata, tendo em vista que o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não o recomendam. Arnaldo Fazoli explica que a orientação é “porque o câncer de próstata tem comportamento diferente quanto ao grau de agressividade do tumor. Tem o indolente, com crescimento lento e pouco agressivo, quando o paciente não precisa ser operado, só acompanhado. E o mais agressivo, que dá metástase nos ossos, insuficiência renal e torna a vida muito ruim. Se for o indolente, fazemos um tratamento de vigilância ativa, ou seja, acompanhamos a evolução do tumor. Mas lembrem-se de que não mapear não é não acompanhar”, avisa.
Exames investigativos
» Toque prostático: o médico avalia tamanho, forma e textura da próstata, introduzindo o dedo, protegido por uma luva lubrificada, no reto. Esse exame permite palpar as partes posterior e lateral da próstata e detectar algum nódulo
» PSA: exame de sangue que mede a quantidade de uma proteína produzida pela próstata – antígeno prostático específico (PSA). Níveis altos dessa proteína podem significar câncer, mas também doenças benignas da próstata
» Biópsia: para confirmar a doença é preciso fazer biópsia. Nesse exame são retirados pedaços muito pequenos da próstata, para serem analisados em laboratório. Ela é indicada caso seja encontrada alguma alteração no exame de PSA ou no toque retal.
Números de casos
» Brasil: estimam-se 68.220 casos novos de câncer de próstata para cada ano do biênio 2018-2019. Esses valores correspondem a um risco estimado de 66,12 casos novos a cada 100 mil homens
» Sudeste: estimam-se 30.080 casos novos de câncer de próstata para cada ano do biênio 2018-2019. Esses valores correspondem a um risco estimado de 69,83 casos novos a cada 100 mil homens
» Minas Gerais: estimam-se 6.730 casos novos de câncer de próstata para cada ano do biênio 2018-2019. Esses valores correspondem a um risco estimado de 63,80 casos novos a cada 100 mil homens
» Belo Horizonte: estimam-se 980 casos novos de câncer de próstata para cada ano do biênio 2018-2019. Esses valores correspondem a um risco estimado de 81,20 casos novos a cada 100 mil homens
Fique atento aos principais fatores de risco…
– Idade: o risco aumenta com o avançar da idade. No Brasil, a cada 10 homens diagnosticados com câncer de próstata, nove têm mais de 55 anos
– Histórico familiar: homens cujo pai ou irmão ou tio tiveram câncer de próstata antes dos 60 anos
– Raça: homens negros
… e aos sintomas
– Urinar com frequência e pouco de cada vez (ir ao banheiro várias vezes à noite)
– Dificuldade para urinar (jato urinário fraco)
– Presença de sangue na urina ou no sêmen
– No caso de metástase, dores ósseas e sensação de fraqueza
Fonte: IAG SAÚDE